sábado, 31 de agosto de 2013

A partida



Ela era uma moça que não sabia quem era.
Lúcia cresceu ouvindo sobre como ela devia "parar":
Lúcia ficou alta, e todos diziam que ela devia parar de crescer.
Depois ouviu sobre como devia parar de engordar. A seguir disseram que ela devia parar de emagrecer.
Disseram pra que ela "parasse em casa", e também disseram pra ela parar de ser caseira demais.
Falaram que Lúcia devia parar de alisar o cabelo, falaram pra que ela parasse de cachear.
Comentaram que ela devia parar de ser tão ácida, e também que ela devia parar de ser tão "insossa."
Disseram que Lúcia devia deixar de ficar em cima do muro, e também que ela devia parar de falar tudo o que pensava.

Lúcia estava confusa. O que essas pessoas esperam, afinal? Lúcia queria ser muitas Lúcias, pra poder ser do jeito que cada pessoa quisesse. O que Lúcia não contava por aí, é que de certa forma, ela se sentia muitas em uma só. Mas quem entenderia isso sem achá-la louca? Quem acharia isso tão legal quanto ela achava ser?
Lúcia foi falar com a mãe, e ela disse pra que Lúcia parasse de fazer drama.
Na falta de quem a amparasse, Lúcia foi procurar algo que a parasse. Resolveu deixar tudo isso pra trás e partir.
Pegou o primeiro ônibus que passou e desceu em frente a um prédio público.
Lúcia foi para o último andar, e permitiu que o chão fizesse por ela algo que ela mesma nunca conseguiu fazer. Ele a parou.
E assim Lúcia partiu. Partiu ao meio.




Um comentário:

  1. O destino de todos que dão ouvidos demais a opinião do que os outros acham. Ouvir crítica, tentar melhorar e crescer é ótimo! Tentar agradar a todos é impossível...

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